Zabagy: a longa história do rio que hoje chamamos Zambeze

O rio Zambeze tem origem há entre 50 e 100 milhões de anos, durante o final do período Cretáceo e início do Paleogénico. Nasce nas terras altas do noroeste da Zâmbia, perto da fronteira com a República Democrática do Congo e Angola. Corre por mais de 2.500 quilómetros até desaguar no Oceano Índico, na costa centro-sul de Moçambique.

Ao longo da sua história geológica, o curso do Zambeze nem sempre foi o mesmo. A tectónica de placas, as mudanças climáticas e os movimentos de erosão e sedimentação moldaram o seu percurso. Há milhões de anos, partes do seu leito actual eram ocupadas por outros sistemas hidrográficos. O Vale do Rift, por exemplo, influenciou a drenagem da região e desviou rios antigos, contribuindo para a forma que hoje reconhecemos.

Durante a última glaciação, o volume do Zambeze era menor. Com o recuo das geleiras e o aumento das chuvas tropicais, o rio expandiu-se, escavando vales e criando cataratas, como as famosas Cataratas de Vitória, com cerca de 2 milhões de anos. Estas quedas não existiam na fase inicial do rio – são fenómenos geologicamente recentes.
O Zambeze teve vários nomes ao longo da história. Povos locais usaram designações como Zambezi, Zambeze, Nzambi, todas ligadas a ideias de grandeza ou divindade. Durante o comércio árabe-suaíli, foi também conhecido como Zabagy, aparecendo em mapas antigos do Índico. Os portugueses adoptaram o nome Zambeze a partir dos séculos XVI-XVII, tornando-o oficial nos registos coloniais.

A história do Zambeze mostra que um rio não é um corpo estático. Mudou de forma, de força e de nome. Atravessa países e épocas, carregando sedimentos, histórias e civilizações. É mais do que água em movimento – é testemunha de milhões de anos de transformação geológica e humana.